Não duvide das coisas do amor

CDBook Pequenas histórias de Amor Verdadeiro

Pensando o Natal como deveria realmente ser, imagino que um dia vamos nos saturar da ilusão e viver de fato a mensagem do amor.

Plínio Oliveira

Plínio Oliveira

E para lembrar que o Natal é sempre, gostaria de compartilhar uma história bem bacana que aconteceu com Plínio Oliveira, e o inspirou em uma linda canção.

A história segue transcrita do CDBOOK Pequenas Histórias de Amor Verdadeiro, e logo abaixo a canção em uma apresentação com o Coral Sou da Paz em Catanduva – SP:

Como um Anjo

Era o primeiro dia de aula de música e preparação vocal para jovens e crianças moradores da Vila Torres em Curitiba. O projeto, simples e atraente, consistia em reunir num mesmo grupo artístico alunos da escola patrocinadora, de classe média e em alguns casos média alta, e alunos de classe sociocultural mas baixa, perto da linha da miséria.

Depois de me apresentar pedi que cada participante dissesse o nome e a idade. Dentre eles se destacou um jovem de 16 anos. Lucas, com boa sensibilidade musical e um violão a tiracolo. Havia em seu olhar um certo tom de desconfiança, um ar de ressabiado e um sorriso tímido. A simpatia foi mútua e imediata.

Após as apresentações iniciais convidei os alunos a um instante de meditação e oração, buscando a serenidade e manifestando gratidão diante da vida e da oportunidade de estarmos juntos pelo amor à música.

A aula transcorreu ativa e em paz.

Ao final, Lucas se aproximou:

– Plínio, tem que acreditar em Deus para participar do coro?

Por quê? Você não acredita?

– Não, disse o moço – se Deus existisse não deixava certas coisas acontecerem…

– Mas como você explica o brilho das estrelas, a imensidão do universo, a própria vida? Argumentei.

– Isso a ciência um dia vai explicar. Esse negócio de Deus não é para mim. Tem que acreditar para participar?

-Não, não tem que acreditar em Deus; mas no nosso projeto, você acredita? Acredita que vamos gravar um CD, que vamos cantar juntos, que vamos fazer um show no teatro?

– Isso é o que eu quero ver.

– Então continue vindo às aulas. Eu lhe asseguro que você pode acreditar.

A sua coragem em dizer que se Deus existisse não deixaria certas coisas acontecerem, me fez pensar no que lhe teria acontecido pra sentir tanta mágoa.

Ao chegar em casa pensei que precisava lhe dizer algo mais, e, então, inspirado, compus a canção “Anjo” e logo vi que poderia ser uma bela opção para o repertório do grupo.

De fato, “Anjo” se tornou a melodia mais querida da criançada, dos seus pais e dos amigos do Grupo Vocal da Paz. Sempre que ensaiávamos a canção eu observava o Lucas. Não disse nada a ele em princípio, mas acho que ele sabia que havia feito a música pensando em nossa conversa.

Ao longo do tempo nos aproximamos mais. Numa de nossas visitas às famílias dos participantes cheguei em sua casa.

Uma casinha pequena, mobília mais que simples, pobreza material em tudo. Criado pela avó, ao lado de uma irmã, naquele dia ele preferiu não estar em casa, embora eu soubesse que me queria bem.

Meses se passaram.

Fizemos a gravação das músicas para o CD, tiramos foto para o encarte, ensaiamos para o show. Em dezembro, no teatro Ópera de Arame, cantamos para cerca de mil pessoas e foi muito emocionante. Lucas se destacou como um dos solistas.

“Anjo” foi o ponto alto do show e, antes de catarmos a música, contei para o público a história da canção. Seus olhos brilharam, pois sabia que eu falava dele, mesmo sem citar o nome.

Ao término do show os cantores formaram uma roda em torno de mim e se abraçaram uns aos outros. Eu puxei Lucas para também o abraçar. Sua timidez sempre o fazia não corresponder plenamente aos meus abraços, mas dessa vez ele me segurou com força e emoção. Seus olhos estavam úmidos e os meus também.

– E então, agora você acredita em Deus?

Ele secou os olhos e disse:

– Não… – E, parafraseando a canção, concluiu: – mas já não duvido das coisas do amor!

Eu tive vontade de lhe dizer que eu também não acredito num Deus personalizado, tipo super-humano, cuidando do mundo como um jardineiro. Essa é uma percepção poética de Deus e até tem seu lado verdadeiro, porém Deus é muito mais que isso.

Mas há coisas que não precisam ser ditas para serem compreendidas.

Na verdade, ao ouvir o Lucas dizer que já não duvidava das coisas do amor, tive uma das minhas experiências mais intensas com o divino.

O amor é o verdadeiro caminho para Deus.

Pode também ouvir aqui.

Anjo (Plínio Oliveira)

Não tenho asas, nem laurel
Nem nunca vi um anjo do céu
Não creio em búzios, nem tarô
Mas não duvido
Das coisas do amor

Por isso eu lhe digo
Conte comigo
Ainda que eu fosse ateu

Não sou tão à toa
A vida é tão boa
Acredito em você e eu

Eu também posso ser
Como um anjo
Protegendo você
Como um anjo


Se você tem o hábito de presentear alguém no Natal, uma ótima dica é a obra de Plínio Oliveira que pode ser encontrada aqui.

Deus: crença ou confiança

Há algum tempo presenciei um fato interessante. Meu filho mais velho, Gabriel, tinha um professor que se declarava ateu e em conversa acabaram trocando livros.

O professor lhe emprestou o livro Deus um Delírio de Richard Dawkins, e Gabriel lhe presenteou com um exemplar de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, o qual demonstra a compreensão que temos a respeito de Deus e de Suas Leis.

Com um conhecimento sólido a respeito do tema, Gabriel iniciou a leitura do livro e comentou em sua página do Facebook, informando que estava lendo, gostando, e que o livro estava reafirmando o que sempre pensou a respeito de Deus.

Sua crença não se abalou com a descrença, e muito menos lhe foram apresentados argumentos lógicos capazes de lhe causar qualquer insegurança.

Afinal, conforme consta no livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, “fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”.

Causou-me um pouco de espanto o conflito que esta postagem criou para ele, ainda mais que a briga estava entre pessoas que creem. Não sei se o caso era de fanatismo ou de analfabetismo funcional mesmo, mas imagina se algum ateu se atrevesse a manifestar!

Apesar de sermos os únicos seres dotados de razão, capaz de ter a percepção de Deus, e nos aproximarmos dEle, temos uma relação conturbada com a Divindade.

São inúmeras religiões que se arvoram em proprietárias da Verdade sobre o que seja Deus.

Quem é Deus? Onde mora? O que faz?

A Doutrina Espírita inicia seu primeiro livro doutrinário1 com a pergunta em termos corretos: que é Deus? Quis saber Allan Kardec, “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”, responderam os espíritos.

Não é uma pessoa, desfazendo o conceito antropomórfico que muitos ainda têm de Deus.

Dos vários questionamentos cabíveis, a maioria das pessoas se conforme e contenta com uma pergunta/afirmação simples: você acredita em Deus?

Parece-me que não é o suficiente.

Crer em Deus é tão óbvio!

Todos os seres creem em Deus quando cumprem o objetivo de sua existência.

Nós que temos a consciência de nossa individualidade, do nosso ‘eu’, que conseguimos compreender a existência de Deus, que temos o livre arbítrio, precisamos um pouco mais do que crer.

É preciso confiança em Deus. Confiança nas Leis Divinas e Naturais que regem todo o Universo.

E isso é mais do que crença, pois a confiança conforma todos os atos, atitudes e consequências às soberanas Leis imutáveis, previamente estabelecidas por esta Inteligência Suprema.

Carl Gustav Jung em uma célebre entrevista à Rádio BBC em 1959 quando questionado se acreditava em Deus respondeu:

“Difícil responder… Eu sei. Eu não preciso acreditar. Eu sei.”

Não se trata, pois, de uma questão de crença, mas de experiência. E mais ainda, não adianta apenas crer, mas confiar na sabedoria absoluta das Leis por Deus instituídas, em todas e quaisquer circunstâncias e situações.

1. O Livro dos Espíritos. Allan Kardec.