O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê que “toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta” [1].
A própria Constituição Federal (art. 226) considera a família como a base da sociedade e tem especial proteção do Estado.
Lamentavelmente ainda não conseguimos realizar de uma forma efetiva esta “proteção especial do Estado”, e as consequências disso são visíveis na sociedade doente que vivenciamos.
Um dos efeitos desta sociedade doente é o abandono de crianças pelos seus pais, seja por causa de drogas ou bebidas, pela irresponsabilidade, imaturidade ou mesmo insensibilidade.
Se não for possível a manutenção ou reintegração na família de origem, o caminho para estas crianças é a adoção.
Mas até que o processo seja finalizado como ficam estas crianças?
Normalmente em abrigos e em famílias substitutas – conhecidas como famílias acolhedoras.
No link abaixo uma reportagem do FESP em Ação aqui de Passos que dá uma rápida ideia de como funciona este serviço e participo contando um pouco da experiência de nossa família com o programa:
Avalie a possibilidade de participar do programa, pois tenho certeza que você também pode contribuir para diminuir a angústia e o sofrimento de uma criança.
Já escrevi aqui sobre adoção na postagem Ritual de amor. Lá inclusive falo um pouco sobre os paradoxos da situação das crianças no Brasil e tem um vídeo muito interessante e emocionante.
Somos meio avessos a exposição pessoal, mas no caso é por um bom motivo, ainda mais por causa do preconceito e ignorância que ainda existe. E também é um fato tão corriqueiro na nossa vida que não tem como não falar.
A chamada adoção tardia é assim considerada por quem adota crianças acima de três anos. E adotamos uma criança, o Matheus, entre os 9 e 10 anos, que atualmente está com 14 anos.
Igualmente sabe que existem muitos abrigos para crianças, órfãos ou que estejam em situação de risco.
Porém, apesar destas obras emocionarem quem lhes conheça, não é uma obra do bem puramente consideradas.
São obras necessárias em razão da dureza dos nossos corações, parafraseando o Cristo.
O ideal seria que cada idoso vivesse com seus familiares, assim como toda criança deveria ser criada com uma família.
Infelizmente a nossa realidade ainda está longe disso.
No ano passado eu e minha esposa tivemos a alegria de participar de um curso para pessoas interessadas em adoção, conforme exige a nova legislação.
E foi com muita satisfação que vimos que aqui em Passos o número de interessados está cada vez maior.
Reflete a situação nacional, pois no cadastro nacional de adoção existem 6.000 crianças cadastradas disponíveis para adoção, enquanto há mais de 30.000 interessados em adotar.
Matematicamente é uma conta simples, e a situação é aparentemente simples.
O problema é que a maioria dos interessados quer crianças brancas de até 3 anos de idade.
Embora esta exigência esteja diminuindo, a experiência nos mostra que isso é fruto de ignorância, preconceito e falta de informação.
A situação é grave e na minha percepção o Poder Público (em todas as esferas!) não tem feito um trabalho com a dedicação que o tema exige.
Isso porque quanto mais o tempo passa, mais difícil é para que uma criança seja adotada.
Aqui em Passos para se ter uma ideia, existem cerca de 60 crianças vivendo fora do seu ambiente familiar. Estão em abrigos, na casa lar ou com famílias de apoio.
Destas somente 7 adolescentes estão disponíveis para adoção (acesso em 19/03/2013).
São 3 do sexo feminino e 4 do sexo masculino. 1 branca, 3 pardas e 3 pretas. 1 acima de 15 anos, e as demais entre 11 e 15.
E você sabe qual a probabilidade destas crianças serem adotadas e viverem em um lar com família e tudo o que qualquer ser humano tem direito, e que a quase totalidade dos leitores teve?
Quase nenhuma.
Existem muitas iniciativas interessantes, como esta do apadrinhamento afetivo mostrada no vídeo, existem muitas pessoas que se doam e amam de verdade.
Como uma mãe que fala na reportagem abaixo: “filho, você nasceu do coração”.
O título desta postagem é tirado da fala emocionante de uma mãe, que estabelece um ritual de amor diário com seus filhos do coração. E encontrou a felicidade no ato nobre e puro de amar.
Esta reportagem foi realizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), e eu lhe peço que assista com atenção:
A grande e básica pergunta é: e se você no lugar da criança, o que gostaria que fizessem por você?