Ah, os pais…

sofrimento

Nossos filhos não são nossos filhos, são filhos da ânsia da própria vida, escreveu Khalil Gibran.

Sim, entendo isso. Mas ser pai é mais que realizar a ânsia da vida, é crescer e aproximar-se de Deus.

Somos criados à imagem e semelhança de Deus por que somos cocriadores.

Vivemos em mundo de transição e no qual infelizmente o mal ainda predomina. Talvez por isso ainda seja comum vermos pais abandonando filhos.

Triste mas ainda é assim.

Mas há grandes e louváveis exceções. Pais que se dedicam e renunciam em favor do crescimento dos filhos.

E não digo que seja somente no sustento material, dar comida e um teto. Isso é relativamente fácil.

O difícil é conduzir almas à vitória sobre as próprias imperfeições, auxiliando na construção de um mundo melhor.

O quanto sofre um pai pelos desatinos de seus filhos?

Há no livro Recordações da Mediunidade de Yvonne Pereira um dramático relato de um pai em intenso sofrimento pela filha que havia se suicidado em vida anterior e nesta existência experimentava grande sofrimento, o qual é doloroso mas essencial para que o espírito se fortaleça e compreenda o que é de fato importante na vida e possa superar as suas dificuldades.

Peço que você não se fixe em detalhes como a comunicação mediúnica ou mesmo a reencarnação, mas no drama e no sofrimento deste pai.

Veja a carta de Charles à sua filha:

Grande parte do que hoje sofres é o reverso do que tu mesma me fizeste sofrer, a mim, teu pai, nos dias do nosso passado terreno, naquele mesmo lar cuja lembrança te seguiu de uma existência à outra como a sombra de um remorso. Já pensaste porven­tura, minha filha, o que foi a dor que me pungiu o coração ao constatar que tu, a quem eu amava acima dos demais afetos da família, preferiste a morte a sofrer tuas próprias desventuras, resignada, ao pé de mim, amparando-se na minha ternura? Pensaste no que possa ser a amargura de um coração paterno que se reconhece irremediàvelmente preterido pelo filho que em tudo mais pensou, que a todos os demais amou e envolveu na solicitude suprema de uma saudade, mas que ao próprio pai esqueceu, quando se entregou ao suicídio pelo amor de outrem?

Pois tu fizeste isso com teu pai!

Pensaste, acaso, no que padeci, obrigado a viver ainda naquele lar onde nasceste, depois que o abando­naste, primeiro para te entregares ao cultivo das paixões, e depois para buscar a morte voluntária fora dele? Pensaste no que sofri naquele casarão silencioso que tua saudade dominava, e quando se diria que ias e vinhas pelas salas ainda cheias da recordação da tua presença? E no que foi a minha dor ao encontrar teu corpo decomposto pelas águas, sem sequer poder beijar-te uma vez ainda?

Pois tudo isso fizeste sofrer a teu pai, pelo qual hoje tanto choras na ânsia do arrependimento.

É, pois, por mim que hoje sofres. A tua dor de hoje reflete a minha dor de ontem. Sofre, pois, resig­nada, mas certa de que, embora separados temporariamente, pela tua reencarnação, permaneço fiel a teu lado, consolando tuas horas tristes, fortalecendo a tua coragem nos momentos mais dificeis…

Sofres pela falta de um lar, que te negaram. Mas porque te admiras de que não logres possuir um lar?… O teu lar é o meu lar, minha filha, e no momento estou impossibilitado de oferecer-te um. Con­sola-te, pois, comigo, que também não possuo lar. Nunca mais tive lar, minha filha, desde o dia em que abando­naste aquele que foi nosso para te entregares à volúpia de um suicídio. É porventura lar, o abrigo de onde a paz se ausentou para que a dor permanecesse? Aqui, na vida espiritual, onde presentemente habito, existem lares suntuosos. Há também um à tua espera. É o meu. É o teu. Mas nem eu o habito por enquanto, porque um lar, sem ti, para mim é expressão vazia de sentido.

Praza aos céus que, doravante, tu te voltes definitivamente para Deus, como tanto te é necessário, fiel às atitudes de renúncias gerais, para que, final­mente, consigas a paz do coração.

Muito precisarás fazer nas sendas do amor a Deus, ao próximo e àverdade. E se o meu auxilio, em meio das tuas futuras lutas reparadoras, é grato ao teu coração, ter-me-ás ainda e sempre junto a ti, como o tiveste durante as peripécias dos milênios passados. Devo-te a minha ajuda diante de Deus e não faltarei ao meu dever. O esplendor egípcio já nos viu unidos pelos laços de um amor recí­proco. O esplendor da Pérsia recebeu-nos novamente juntos, concedendo-nos o prosseguimento de uma união que revelava pretender a eternidade. Roma nos agasa­lhou na sua decadência e nos conservou unidos, não obstante os desvios imprevistos que nos feriram… Chegou a Idade Média, a face do mundo se transfor­mou, mas nossos corações se conservaram fiéis ao antigo sentimento. Depois, a Renascença saudosa, que tanto nos viu sofrer e chorar, e, após, o século dos filó­sofos… e finalmente o século 19 e a Espanha. Como vês, minha filha, o século 20 nos poderia contemplar definitivamente redimidos pelo amor. Mas teu suicídio de ainda ontem separou-nos, afastando por um tempo imprevisível a felicidade com que sempre sonhamos e que tão penosamente vimos procurando. Ainda assim, não te deixo ao abandono, porque, mesmo quando sepa­rados pelo rigor de uma existência terrena isolada, revelo-me a ti como presentemente faço. Mas dia virá em que te poderei apresentar diante de Jesus, em comu­nhão plena com Ele, através da Prece, para rogar-Lhe:

— Senhor! Eis que vencemos o pecado e a morte, abençoa-nos na glória do teu amor.

E em nossas almas, nesse dia, certamente ecoa­rão palavras idênticas àquelas dirigidas a Maria pros­ternada a Seus pés:

“Perdoados são os teus pecados, porque muito amaste.”

E afianço, minha filha, que depende de ti, e não de mim, a glória desse dia!

Segue, pois, a tua jornada de reparações, visto que, se erraste ontem, é justo que hoje te reabilites através da dor e do trabalho. Não sofrerás sozinha: teu pai de ontem, teu pai de sempre seguirá teus passos, suavizando quanto possível os espinhos que te ferirem o coração. Ouvirás o murmúrio da minha voz como outrora, naquele lar que era nosso, durante tua infância, quando eu te adormecia nos meus braços ou à beira do teu berço…

Porque quando sofre um pai, todos os pais do mundo sofrem também!

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