No último dia primeiro de abril por causa das brincadeiras com o dia da mentira lembrei-me de uma história interessante que ouvi há algum tempo.
Fui procurado por um cliente em busca de orientação jurídica para solução de um problema e como a história não fizesse muito sentido e não fosse muito convincente me saiu com essa:
– Doutor não tenho por que lhe mentir. Só menti três vezes na minha vida: para salvar meu casamento, para não ser mandado embora do trabalho e para não ir preso.
Pode parecer engraçado em um primeiro momento, mas denota uma característica humana infeliz: a fuga constante da própria responsabilidade.
Ou de outro lado: a pessoa só fala a verdade se for em seu próprio benefício.
Apesar da pessoa de quem ouvi isso já ser idosa a atitude demonstra claros sinais de imaturidade, pois é característica de pessoas maduras assumir os próprios erros.
O engraçado é a crença de que conseguimos enganar alguém. É uma ilusão destrutiva, pois mais importante do que o que os outros pensam de nós são os valores internos que construímos e conseguimos identificar em nós mesmos.
A finalidade da existência não é manter um casamento fajuto, fundado em mentira; ou um emprego que não se consegue honrar, ou ainda escapar da justiça humana sempre falha. Isso é fácil e superficial demais.
Se a vida fosse isso seria uma pobreza sem tamanho.
De fato, podemos usar uma máscara de honestidade e retidão e enganar a muitos, mas no final das contas sempre saberemos que somos levianos, desonestos e mau caráter.
Se temos coragem de cometer o erro temos que ter também a de repará-lo, ou ao menos assumi-lo. Aí sim haveria um ganho de maturidade e de experiência de vida sempre úteis em qualquer quadrante do Universo.
A existência na terra é curta e se não prestarmos bastante atenção nas suas finalidades, no final das contas só ficará o sabor amargo de não ter feito nada, ou quase nada.
A sensação que vamos morrer sem termos vivido. Que a vida passou rápido demais e não conseguimos realizar muita coisa.
E tudo isso porque escolhemos viver fugindo do que somos e fazemos, criando um personagem que em nada se parece com a nossa essência, distanciando do que realmente importa, mas que deve agradar superficialmente alguns que vivem conosco mas que definitivamente não sabem quem somos.
Penso que a chave para isso está na educação que não conseguimos empregar até o momento na nossa sociedade de formação de pessoas responsáveis, que pagam o preço do próprio erro porque não adianta a ninguém escapar temporariamente das consequências de atitudes equivocadas, e que a mentira como fuga da responsabilidade é justamente a causa das calamidades sociais, familiares e até pessoais.
Assim como uma gota de veneno compromete um balde inteiro, também a mentira, por menor que seja, estraga toda a nossa vida.
Mahatma Gandhi