Todas as especulações mais refinadas no campo da ciência provêm de um profundo sentimento religioso; sem esse sentimento, elas seriam infrutíferas. Albert Einstein
Tive a alegria de participar no fim de janeiro passado do primeiro Café Filosófico do Café Teatro Chaleira, que teve o tema inaugural “Deus”, conduzido por Gleisson Klebert, segundo a visão de vários filósofos.
Surgiu um debate interessante e mais uma vez a discussão recaiu sobre temas correlatos tais como religião ou religiões e uma suposta oposição da ciência, debalde a posição clara transmitida pelo Gleisson que se tratava do tema à luz da filosofia.
Usualmente debate-se Deus buscando uma discussão quase infantil acerca de sua existência ou não, como se esta fosse uma questão de crença e não de uma alta compreensão da vida e de seus mecanismos.
Não consigo vislumbrar qualquer área de atuação neste mundo que não esteja na busca para explicar o funcionamento das leis universais, identificando os chamados “propósitos de Deus”, que seria uma espécie de sentido para a vida, e fazemos isso ainda que de forma inconsciente.
É inegável que as religiões de uma forma pueril tentam se apropriar de Deus, se autoproclamando titulares de uma suposta supremacia e detentores da “última palavra”.
Com o devido respeito, como criações humanas podem abarcar temas universais, se conhecemos tão pouco da própria vida? Pode a gota d’água compreender o oceano? O grão de areia o deserto?
Assim, penso que todas as áreas do conhecimento humano tendem a explicar a vida e seu funcionamento, cada um com seu valor; a ciência, a filosofia e até mesmo a religião têm como propósito explicar Deus e a nossa relação com Ele, e não buscando negar um ou outro lado, como se fosse uma competição.
A título de enriquecimento do debate, gostaria de frisar que estas ideias também povoaram o pensamento de Albert Einstein que escreveu o ensaio “RELIGIÃO E CIÊNCIA”, para a New York Times Magazine em 1930, embora já tivesse feito várias manifestações sobre o assunto.
Einstein propõe a existência de três estágios do desenvolvimento da religião na sua busca de explicar Deus, o que também afasta uma eventual oposição da ciência:
Primeiro estágio que ele chamou de “religião do medo”.
“Foi, antes de tudo, o medo, seja da fome, dos animais, das doenças ou da morte que levou o homem primitivo a adorar um deus. A mente humana criou seres imaginários de cuja vontade dependiam a vida ou a morte do indivíduo e da sociedade. E, para aplacar esses seres, os humanos lhes ofereciam súplicas e sacrifícios, formas primitivas de oração e rituais religiosos”.
Segundo estágio que ele descreveu como a “concepção social ou moral de Deus”, “decorrente do desejo de orientação, amor e apoio”. É ainda uma visão de Deus que distribui prêmios e castigos de acordo com uma perspectiva humana.
Em ambas as formas acima se percebe uma visão de Deus ainda antropomórfica, ou seja Deus feito à imagem humana.
De família judaica, Einstein via no Antigo e no Novo Testamentos uma espécie de dessa transição de uma religião do medo para a religião da moral, ainda ligada a uma concepção de Deus com “valores” e forma humanos.
Terceiro estágio ao qual ele chamou de “sentimento religioso cósmico” e, segundo explicou, “é um conceito muito difícil de elucidar para as pessoas que não têm esse sentimento, uma vez que ele não comporta qualquer concepção antropomórfica de Deus correspondente a ele”.
E é esse sentimento que animou gênios religiosos, cientistas e filósofos de todos os tempos que compreenderam esse sentimento ainda que em desacordo com dogmas resultantes de uma compreensão de Deus resultante de concepção moral ou do medo.
Assim, cada um O concebe conforme sua condição evolutiva e de compreensão da vida: um ser material, poderoso; vingativo, que precisa de prendas e sacrifícios de animais e humanos; bom, mas severo, que castiga.
E, também um ser imaterial, eterno, que estabeleceu leis perfeitas que levam sempre em bem, à justiça e à plena realização da vida.
Assim, ciência, filosofia e a religião só têm utilidade para explicar as leis que regem o Universo e nos aproximar da compreensão para sentir Deus, que é o nosso desejo inato, latente e contínuo, ainda que não o saibamos e às vezes até o negamos veementemente.