Já escrevi aqui sobre produtividade, controle de tempo e assuntos afins (veja aqui, aqui e aqui).
E estou sempre me perguntando o que ativa determinados surtos de produtividade nas pessoas e em mim principalmente.
Sabe aquela última semana antes das férias que você coloca o serviço de meses em dia? É disso que estou falando.
No caso de advogados – que não temos férias – produzimos freneticamente nos dias que antecedem o recesso de final de ano, acho que na intenção de “limpar a mesa”.
Conheço inúmeras pessoas que ficam quase que enlouquecidas na reta final da declaração de imposto de renda, pois têm inúmeras providências a tomar de última hora, embora os órgãos fiscais disponibilizem quase que sessenta dias para isso.
Ou o que será que acontece quando você consegue energia e disposição para correr atrás de dinheiro para pagar aquela conta no prazo fatal?
Vejo e convivo com vários tipos de pessoas que pagam títulos no cartório de protestos faltando 10 minutos para fechamento. Ou os que pagam a conta de energia elétrica no último dia antes de cortar.
E ficam muito feliz em haver conseguido cumprir com o objetivo, embora isso tenha sido extremamente desgastante.
Sei muito bem (e como sei!) o que é viver em aperto financeiro e não ter dinheiro para pagar as contas, mas não é disso que estou tratando, mas da energia que faz você tirar um coelho da cartola aos 45 do segundo tempo.
Isso parece que é um comportamento arraigado à alma e modo de vida do brasileiro. Tanto é assim que há alguns anos era comum a Receita Federal prorrogar o prazo de entrega da declaração de imposto de renda. Marcava o dia 30 de abril, mas já era usual contar com mais 10, 15 ou 30 dias para os atrasadinhos.
Assim, para estes, o prazo nunca era o estipulado mas aquela já acostumada prorrogação que já era tida como direito adquirido.
Se você também se encaixa no perfil vai compreender o que é sentir que quando o prazo para entrega de determinado material, produto ou serviço está chegando e você já não se concentra mais em concluir o serviço porque sabe que não vai dar tempo, mas a preocupação é saber quanto mais de prazo pode conseguir com o chefe ou cliente.
O que concluo disso tudo?
Que quem assim vive ou viveu se adaptou a estar sempre sob pressão externa. Reagindo às exigências dos outros. Procrastinando o que não te dá prazer ou adiando e alimentando problemas.
O pior de tudo é a sensação estressante de não ter tempo ou de incompetência.
Mas não se trata de incompetência pois quando vai chegando o vencimento do prazo (de pagar a conta ou da entrega do serviço) a energia necessária para encontrar a solução aparece.
Aqui a grande questão: porque não aparece antes?
Ela existia, eis que surgiu em algum momento, mas porque não havia sido ativada?
Será que não estamos criando gatilhos para que nossa força de vontade seja manifestada somente sob pressão externa?
Penso que isso demonstra uma atitude psicológica de querer agradar aos outros e atender a uma expectativa dos outros, enquanto que ser produtivo, realizar e canalizar suas energias deveria ser uma atitude de crescimento interior, de colocar a vontade em ação para atender a um estímulo interno de realização pessoal que lhe traga felicidade e prazer.
Eis aí a nossa luta e desafio constante: transformar o hábito de reagir à pressão externa de prazos e pessoas em um modo de agir, realizando os projetos de forma consciente, com método e planejamento para atingir este nível de satisfação e crescimento pessoal.