A Vida é dura para quem é duro…
por Rodney Malveira da Silva
Muitas vezes ouvi meu bisavô dizer entre uma e outra baforada de seu cigarro “Petit Londrinos” sem filtro, que de há muitos não mais existe, como meu bisavô: “A vida é dura pra quem é mole!”. Ficava pensando, ou sei lá o quê, do alto de meus sete ou oito anos, como seria gente mole, como seria isso? E ficava imaginando um sujeito andando pela rua se derretendo, mole, escorregadio, flácido, ughhh. Ficava com medo.
Meu bisavô se foi, mas a frase vez por outra retoma minha mente e a imagem do homem mole se desmanchando me assombra. Mole mesmo, acho que sou mole porque não consigo nem mesmo inflar meus músculos numa academia de marombeiros, não nasci mesmo pra isso.
Sou mole porque me entristeço ao saber das injustiças que sofrem algumas minorias em nossa sociedade.
Sou mole porque quase choro quando vejo animais atropelados no caminho para o trabalho e meu colega do lado, ta nem aí.
Sou mole porque meus olhos marejam quando assisto pela milésima vez o trecho do filme o Carteiro e o Poeta, onde Mário Ruoppolo, um simples carteiro, grava sons do mar, das nuvens e do vento para mandar para seu amigo poeta Pablo Neruda.
Que moleza eu sou porque choro copiosamente, sem saber por que, quando ouço Nessum Dorma interpretada por Luciano Pavarotti. Meu coração dispara, minha alma voa.
Sou mesmo aquele homem pastoso se desmanchando que via quando menino. Que decepção eu seria para meu bisavô se ele fosse ainda vivo.
Meu bisavô dizia aquilo e devia me imaginar um homem duro, reteso, decidido, inquebrantável, invencível, e mesmo que naquele tempo ainda não existisse o Iron Man, eu deveria ser, na cabeça dele, algo parecido.
Depois de muito pensar no assunto e de viver, digamos, molemente, concluí que a vida é mesmo dura para quem é mole (eu que o diga), mas que é mais dura ainda para os que não são, porque eles não vêm, não ouvem, não sentem e seguem autômatos, enrijecendo-se por dentro e por fora, congelando e empedrando seus corações. Não se emocionam com Mário Ruoppolo, não choram com Pavarotti, não se incomodam com a dor dos outros, não sentem medo, dor ou vergonha…
Serei bisavô, tenho certeza (pelo menos quero ser) e certamente direi para meu bisneto: “A vida é dura para quem é duro!”.
Eu acho incrível o valor da sensibilidade. Eu percebo que as pessoas mais sensíveis quase sempre vivem com mais plenitude que as insensíveis. Estou procurando cada vez mais desenvolver a sensibilidade, e sigo o maior mestre, Jesus Cristo. Que curava as pessoas muitas vezes apenas com um olhar, um toque, um sorriso, algumas palavras, com parábolas riquíssimas, etc.
Desenvolver esta sensibilidade com certeza nos ajuda a viver de forma mais leve e feliz…
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Beleza Isaías.
Valeu!
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Caracas!!! me vi no lugar desse homem mole às pequenas coisas da vida que encantam e dão uma minuto de transcendência a nossa imanência humana neste planeta terra..
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É isso aí Gleisson.
Por isso publiquei o texto do Rodney. Acho que todos nos vemos sensíveis.
Se não temos sensibilidade, significa que estamos mortos, mesmo que respirando.
Abraço e apareça sempre.
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A vida é dura mesmo e eu sou mole mesma, sou mole perante tantas injustiças e nada poder fazer, sou mole em sempre dizer sim quando poderia dizer não ás coisas que são erradas, mole por sentir uma dorzinha enquanto tantos outros sofrem em hospitais, sou mole, por medo de tomar decisões importantes, sou mesmo muito mole, e é por ser mole que a vida passa despercebida e eu fico perdida nesse mundo. Abraços de luz
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Olá Neiva.
Interessante este seu ponto de vista.
No fundo todos temos este tipo de moleza, mas ela dá para ficarmos mais firmas e não ficarmos tão perdidos.
Obrigado pelo comentário e apareça sempre.
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