Como Conciliar a Maternidade com os Estudos

Publico interessante texto sugerido pela leitora do blog Desirée de Souza, que por sinal conseguiu conciliar e ultrapassar todos os obstáculos e foi aprovada no último exame da OAB. Parabéns!

O texto é específico para concursos, mas penso que os princípios podem ser aplicados para a gestão de qualquer carreira.

Como Conciliar a Maternidade com os Estudos para Concurso

Por Rogerio Neiva 
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Seria clichê falar que ser mãe e concurseira não é fácil. Eu na verdade chamaria isto de pleonasmo.

Teoricamente, entendo que a mãe paga um duplo preço para conciliar a maternidade com a preparação para o concurso.

O primeiro, que todos os candidatos a concursos públicos pagam, consiste na restrição sobre o recurso mais valioso na preparação, o qual corresponde ao tempo.

O segundo trata-se do custo de oportunidade da falta de contato com o filho, imposto nos momentos de estudo. Ainda que se estude com o filho ao lado, há um sacrifício de convivência plena. E este custo se agrava pelo fato de que aquele momento da vida da criança não voltará. Portanto, talvez seja um custo triplo, e não duplo.

Porém, a natureza não é tão cruel assim.

Um estudo neurocientífico produzido pela Universidade de Virgínia, nos EUA, descobriu que durante a maternidade as mulheres contam com um aumento de cerca de três vezes na memória. Uma das possíveis causas é que o aumento de estrogênio eleva a intensidade das sinapses no hipocampo, o qual consiste num dos centros de memória no cérebro.

Por trás deste fenômeno neurofisiológico temos uma lógica evolucionista. Ou seja, isto ocorre para que a mãe tenha condições de lembrar de tudo que precisa lembrar para bem exercer a maternidade, como a hora de amamentar, de dar remédio, banho, troca de fralda e outros afazeres maternos. Inclusive também há um aumento da memória espacial, o que, pensando na mãe da época do homem das cavernas, ainda nesta lógica evolucionista, era importante para os olhares maternos atentos à proteção das crias contra predadores.

Porém, um dado curioso e intrigante é que mesmo as mães adotivas experimentam o mencionado aumento de memória.

Mas o fato é que na corrida do concurso público, as mães perdem de um lado, quanto à restrição de tempo, mas ganham de outro, em função deste comprovado aumento de memória.

Em relação aos momentos de estudo e os cuidados com o filho, não se trata de uma questão fácil de equacionar, principalmente se pensarmos na possibilidade de comprometimento da concentração nos estudos.

Primeiramente, é preciso entender que a concentração consiste numa função cognitiva primária, necessária e antecedente à aprendizagem. Ou seja, não há aprendizagem sem concentração. E a concentração envolve uma lógica de seletividade de estímulos, no sentido de desconsiderar todos os estímulos que não seja a matéria que está sendo estudada.

Existem os fatores de desconcentração de natureza exógena, os quais consistem nos fatores ambientais, como o local de estudo, e os endógenos, que seriam os pensamentos que nos desviam do estudo.

Assim, por um lado, se a criança chora ou pede a atenção da mãe para brincar, isto consiste num fator de desconcentração de natureza exógena. Se a mãe não está sendo incomodada pela criança, mas está pensando se a babá ou outra pessoa que está cuidando da criança, no momento de estudo da mãe, não cuida do filho de forma adequada, ficando a imaginar o que pode estar ocorrendo com a criança, isto seria um fator endógeno de desconcentração.

O fundamental é construir uma estratégia que garanta que a mãe não tenha o seu estudo comprometido por nenhum destes fatores. É verdade que nem sempre isto é possível.

Dessa maneira, considero que, por um lado, a mãe deve, durante o seu tempo de estudo, tentar fazer com que o filho fique com alguém que lhe traga (para a mãe) segurança, como o pai, a avó, uma tia (da criança) ou uma babá de plena confiança. Isto significa que a criança não irá atrapalhar a mãe, evitando a incidência de um fator exógeno de desconcentração, bem como a mãe poderá ficar preservada dos fatores endógenos, não se lembrando do medo de que algo de ruim ocorra com a criança.

Neste sentido, o ideal é que se separe muito bem os momentos em que a mãe estará dando atenção ao filho, dos momentos dedicados ao estudo. Obviamente que isto pressupõe a existência de alguém que vá cuidar do filho neste momento.

Se não for possível, a mãe pode tentar criar estratégias alternativas, como estudar no momento em que a criança estará dormindo.

Quanto à opção por fazer um curso preparatório, considero que esta decisão não deve ser tomada no plano da estratégia relacionada ao filho, mas relacionada ao processo de preparação. Muitas candidatas pensam no cursinho como uma alternativa para estar estudando longe do filho, ou afastam esta opção para estar perto do filho.

Se a mãe quer fazer cursinho e não estar longe do filho, permanecendo em casa, que faça um curso de aulas on line. Contudo, se a mãe quer fazer cursinho para não ter contato com o filho no momento do estudo, significa que há alguém que pode cuidar do filho e se, neste momento, a mãe estará na biblioteca ou no cursinho, é indiferente.

O fundamental é construir estratégias para administrar a preparação para o concurso de modo a conviver com o encargo da maternidade. E ter consciência de que, diferentemente das candidatas que não contam com a condição materna, há um outro motivo para a implementação de esforços e busca da aprovação: ser mãe!

OBS: texto originalmente publicado na Coluna pela qual sou responsável no Correioweb.

Originalmente publicado aqui, no blog do professo Rogério Neiva 

2 pensamentos sobre “Como Conciliar a Maternidade com os Estudos

  1. Muito bom mesmo o artigo!!! com certeza muitas pessoas irão se identificar. Pois não é fácil conciliar os estudos e a carreira com a vida pessoal…
    E obrigada pela lembrança Dr. Elder Cardoso … esta é só mais uma etapa vencida! graças a Deus… um abraço

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