Me vê (o negro) pobre, preso ou morto, já é cultural. Racionais MC’s
Assisti há algum tempo uma entrevista do ator norte americano Morgan Freeman, que dizia ser contrário a um mês da consciência negra.
Dizia não ser possível confinar a história dos negros em um mês.
De fato não. Mas precisamos difundir e verificar que em todas as raças existem pessoas capacitadas e que dão sua contribuição para um mundo melhor.
O grande problema do racismo é que se trata de uma questão cultural.
O desrespeito, a visão de que se trata de um estereótipo: pobre e/ou bandido, que deveria estar preso ou morto.
Exagero? Os fatos gritam.
Já ouvi de um gerente de uma empresa, ao receber a minha indicação de um funcionário, de que não era bom contratar negros.
Em outra ocasião, pessoas me perguntaram quem era o “cara estranho” que estava comigo, e era o funcionário do lava rápido que eu estava levando de volta, e que estava trabalhando até próximo às 20 horas.
Porque ele era estranho? Por que era negro.
Um trabalhador que estava até aquela hora da noite me prestando um serviço, foi considerado um “cara estranho”, por ser negro e pobre.
Mas a pessoa que me falou isso não é racista. Não tem preconceito. Pode até ter tido uma preocupação legítima.
A grande questão é cultural, no chamado inconsciente coletivo.
Admiro grandes seres humanos que de alguma forma lutaram pela libertação, valorização, pela resistência e que contribuíram para a mudança de mundo. Zumbi dos Palmares, Malcolm X, João Cândido, dentre outros.
Sabe aquele livro que comprou, mas nunca teve tempo de ler?
Pois eu estava com um destes há tempos, e tive a felicidade de ter me lembrado dele e apreciado a sua leitura.
É o livro Negritude e Genialidade, de Hermínio C. Miranda, conhecido e popular escritor entre os leitores espíritas e espiritualista.
Trata-se de uma biografia de um ser humano genial, o Dr. George Washington Carver, um dos mais importantes cientistas do mundo, e benfeitor da humanidade.
Nascido em 1864 em plena Guerra Civil americana, viveu na conturbada situação pós-guerra, pois filho de escravos, enfrentou a intolerância e ignorância de seu tempo.
Foi sequestrado em meio às atitudes irracionais da época, e resgatado a preço de um cavalo velho.
Não conheceu seu pai, teve pequena convivência com a mãe, teve um irmão que morreu jovem, e foi vivendo com várias pessoas de bem que lhe incutiram o valor do trabalho e do respeito.
Mas aquele jovem negro tinha aspirações “diferentes”, e até esquisitas para a época.
Queria estudar. Compreender a vida, os seres e as criaturas de Deus.
Enfrentando preconceito e inúmeras humilhações de seu tempo, conseguiu estudar, vencer a estupidez humana e se tornar um dos mais importantes cientistas de seu tempo.
Esta breve nota, nunca poderia sequer esboçar a grandiosidade deste espírito, e somente a leitura de sua biografia pode proporcionar uma ideia do que foi a sua vida.
Desinteresse por glórias humanas, sensibilidade, educação e dignidade que não permitiram que fosse contaminado pelo ódio, que no seu entendimento seria descer ao nível dos insensatos que lhe discriminavam por causa da cor de sua pele.
Mas ele tinha um ideal e um sonho, estudar e servir ao maior número de pessoas possível, e principalmente ajudar à sua gente a melhorar de vida.
Mesmo já consagrado e conhecido mundialmente, sofria os preconceitos da época (décadas de 20 a 40 do século XX), pois não podia comer junto com brancos, ou andar na mesma calçada, elevador social, nem pensar, e muito menos frequentar um teatro.
Imagine a cena: um grupo de empresários, políticos e outras pessoas de destaque o convidaram para uma conferência que devia ser realizada depois de um jantar. Porém, por ser negro, teve que esperar em um compartimento de serviço até que os brancos terminassem, para começar sua exposição.
Mas um fato os deixava atônitos: não era aquele homem negro, e os negros não eram criaturas inferiores?
Como poderia ser genial assim? Como poderia saber tanto? Como poderia inventar e descobrir coisas que os brancos não eram capazes?
Resposta simples de que as aquisições do espírito não dependem da temporária cor da pele que revestem durante a estadia no planeta, mas que eram inexplicáveis para os que se cegaram pela intolerância e pelo orgulho.
Conviveu também com outro homem fantástico, Booker T. Washington, educador e ativista que estava convicto de que a verdadeira libertação dos negros se realizariam pela educação, tese que defendeu até o fim de sua vida.
Mas esta história fica para outra oportunidade.
A mudança tem que ser cultural, e advinda da compreensão de que somos iguais, filhos do mesmo Pai, em oportunidades diversas.
Que todos têm direito à igualdade de oportunidades, mas que em razão do atraso imposto pela intolerância e ignorância de uma classe dominante, temos necessidade de um tratamento desigual para garantir a igualdade, ao menos temporariamente por meio de ações afirmativas, como são a cotas raciais e sociais.
Os negros e os pobres não precisam ganhar nada de ninguém, só precisam da mesma oportunidade, igual a todos.
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