Eça de Queirós continua atual!

Mais uma de política.

Este texto caiu na prova do vestibular da UNESP no ano de 2011.

É um trecho de uma crônica de Eça de Queirós escrita em junho de 1871!

Pense bem o quanto o pensamento político evoluiu. Um texto de Junho de 1871 e continua atual, aplicável a todas as esferas do poder.

Troque Portugal por Passos, ou qualquer outro lugar que queira, e tenho certeza que vai encontrar os mesmos personagens.

Uma campanha alegre

Há muitos anos que a política em Portugal apresenta este singular estado:

Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente possuem o Poder, perdem o Poder, reconquistam o Poder, trocam o Poder… O Poder não sai duns certos grupos, como uma pela1 que quatro crianças, aos quatro cantos de uma sala, atiram umas às outras, pelo ar, num rumor de risos.

Quando quatro ou cinco daqueles homens estão no Poder, esses homens são, segundo a opinião, e os dizeres de todos os outros que lá não estão — os corruptos, os esbanjadores da Fazenda, a ruína do País!

Os outros, os que não estão no Poder, são, segundo a sua própria opinião e os seus jornais — os verdadeiros liberais, os salvadores da causa pública, os amigos do povo, e os interesses do País.

Mas, coisa notável! — os cinco que estão no Poder fazem tudo o que podem para continuar a ser os esbanjadores da Fazenda e a ruína do País, durante o maior tempo possível! E os que não estão no Poder movem-se, conspiram, cansam-se, para deixar de ser o mais depressa que puderem — os verdadeiros liberais, e os interesses do País!

Até que enfim caem os cinco do Poder, e os outros, os verdadeiros liberais, entram triunfantemente na designação herdada de esbanjadores da Fazenda e ruína do País; em tanto que os que caíram do Poder se resignam, cheios de fel e de tédio — a vir a ser os verdadeiros liberais e os interesses do País.

Ora como todos os ministros são tirados deste grupo de doze ou quinze indivíduos, não há nenhum deles que não tenha sido por seu turno esbanjador da Fazenda e ruína do País…

Não há nenhum que não tenha sido demitido, ou obrigado a pedir a demissão, pelas acusações mais graves e pelas votações mais hostis…

Não há nenhum que não tenha sido julgado incapaz de dirigir as coisas públicas — pela Imprensa, pela palavra dos oradores, pelas incriminações da opinião, pela afirmativa constitucional do poder moderador…

E, todavia serão estes doze ou quinze indivíduos os que continuarão dirigindo o País, neste caminho em que ele vai, feliz, abundante, rico, forte, coroado de rosas, e num chouto2 tão triunfante!

(1) Pela: bola.

(2) Chouto: trote miúdo.

(Eça de Queirós. Obras. Porto: Lello & Irmão-Editores, [s.d.].)

E a história relata outro acontecimento singular.

Em um futuro depois de Eça de Queirós, foi possível a subida ao poder de governos trabalhistas, de poderes voltados efetivamente ao povo,e às suas necessidades.

E curiosamente sempre que algum governo efetivamente trabalhista e voltado ao povo está no poder, ou seja, alguém que não seja destes grupos que se alternam há centenas de anos, este mesmo grupo tradicional (antigos e ferrenhos adversários), se unem contra o governo popular, e é capaz de tudo para voltar ao ciclo de poder a que estavam acostumados.

Que o diga, Getúlio Vargas, João Goulart, Lula…

Política: Mais do mesmo

Inevitável falar de política.

O que deveria ser um movimento democrático é, no mais das vezes, a venda de um produto.

Formatado por profissionais de marketing, experientes em manipulação de massas.

Quem acha que a eleição é um ambiente amplamente democrático, é porque nunca trabalhou na minha seção eleitoral.

Chega uma pessoa que pergunta “essa eleição é para quê?”, “prefeito ou deputado”; outro que pergunta quem são os candidatos, e muitos que querem saber dos mesários quem é o melhor.

Esta semana eu e a Mirla sofremos um assédio, por que algumas pessoas diziam que o nosso candidato não iria ganhar.

Ué, e daí? Voto em quem eu acho melhor.

Mas o curioso é que este pensamento – de votar em quem vai ganhar – reflete o modo como as pessoas compreendem a eleição.

É como se fosse uma partida de futebol. Torço para o meu time, e que ele ganhe a qualquer custo.

Lamentável.

Mas fazer o que? Só posso mudar a mim mesmo, e dialogar com aqueles que convivem comigo.

Afinal, tem gosto para tudo.

A falta de interesse, de cultura, de exercer a faculdade de pensar, possibilita o fisiologismo político, que é uma praga, uma maldição, mas que no fundo, ninguém se importa.

A Constituição Federal reconhece que toado o poder emana do povo. Na impossibilidade de uma democracia direta, ele é exercido por meio de representantes.

O problema é que em vez do povo apontar os representantes, eles se candidatam a ser eleitos. Daí a excrescência atual.

Vi no blog do Birner e replico aqui este vídeo que demonstra claramente que é sempre mais do mesmo, não há inovação, e tem gente que gosta, torce e briga.

Está aí o manual de Como Fazer Propaganda Eleitoral,que pelo jeito vai ser aproveitado por muito tempo.

Deus: crença ou confiança

Há algum tempo presenciei um fato interessante. Meu filho mais velho, Gabriel, tinha um professor que se declarava ateu e em conversa acabaram trocando livros.

O professor lhe emprestou o livro Deus um Delírio de Richard Dawkins, e Gabriel lhe presenteou com um exemplar de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, o qual demonstra a compreensão que temos a respeito de Deus e de Suas Leis.

Com um conhecimento sólido a respeito do tema, Gabriel iniciou a leitura do livro e comentou em sua página do Facebook, informando que estava lendo, gostando, e que o livro estava reafirmando o que sempre pensou a respeito de Deus.

Sua crença não se abalou com a descrença, e muito menos lhe foram apresentados argumentos lógicos capazes de lhe causar qualquer insegurança.

Afinal, conforme consta no livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, “fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”.

Causou-me um pouco de espanto o conflito que esta postagem criou para ele, ainda mais que a briga estava entre pessoas que creem. Não sei se o caso era de fanatismo ou de analfabetismo funcional mesmo, mas imagina se algum ateu se atrevesse a manifestar!

Apesar de sermos os únicos seres dotados de razão, capaz de ter a percepção de Deus, e nos aproximarmos dEle, temos uma relação conturbada com a Divindade.

São inúmeras religiões que se arvoram em proprietárias da Verdade sobre o que seja Deus.

Quem é Deus? Onde mora? O que faz?

A Doutrina Espírita inicia seu primeiro livro doutrinário1 com a pergunta em termos corretos: que é Deus? Quis saber Allan Kardec, “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”, responderam os espíritos.

Não é uma pessoa, desfazendo o conceito antropomórfico que muitos ainda têm de Deus.

Dos vários questionamentos cabíveis, a maioria das pessoas se conforme e contenta com uma pergunta/afirmação simples: você acredita em Deus?

Parece-me que não é o suficiente.

Crer em Deus é tão óbvio!

Todos os seres creem em Deus quando cumprem o objetivo de sua existência.

Nós que temos a consciência de nossa individualidade, do nosso ‘eu’, que conseguimos compreender a existência de Deus, que temos o livre arbítrio, precisamos um pouco mais do que crer.

É preciso confiança em Deus. Confiança nas Leis Divinas e Naturais que regem todo o Universo.

E isso é mais do que crença, pois a confiança conforma todos os atos, atitudes e consequências às soberanas Leis imutáveis, previamente estabelecidas por esta Inteligência Suprema.

Carl Gustav Jung em uma célebre entrevista à Rádio BBC em 1959 quando questionado se acreditava em Deus respondeu:

“Difícil responder… Eu sei. Eu não preciso acreditar. Eu sei.”

Não se trata, pois, de uma questão de crença, mas de experiência. E mais ainda, não adianta apenas crer, mas confiar na sabedoria absoluta das Leis por Deus instituídas, em todas e quaisquer circunstâncias e situações.

1. O Livro dos Espíritos. Allan Kardec.

Síndrome de Estocolmo na Política

Li o excelente artigo do jornalista Daniel Polcaro no jornal de Passos, Folha da Manhã, e compartilho para maiores reflexões.

Ele fez uma excelente analogia sobre a Síndrome de Estocolmo (vejo o que é aqui) e a relação do povo brasileiro com políticos.

Síndrome de Estocolmo

Por Daniel Polcaro

Um produto é comercializado dia 7 de outubro: a sua confiança, a sua capacidade de crer no próximo, a sua vontade de ver melhorar o lugar que vive. O voto é apenas uma forma representativa.

Assim como a televisão não vende polegadas ou peças – e sim conteúdo audiovisual —, não é o voto que é comercializado, é sua participação na decisão em conjunto com a comunidade, que aponta nomes majoritários para comandar a cidade.

Acreditemos sim em homens e mulheres que possam transformar, mudar esse cenário político nacional impregnado de sujeira. Acreditemos em quem doa sua honestidade, até então somente como cidadão, para a administração daquilo que, teoricamente, é de todos. Acreditemos em figuras que apesar de uma campanha visual modesta, esteve ao lado do vizinho e sempre ajudou seu bairro sem nenhum interesse.

A degradação da política – que atinge todos os partidos de uma forma avassaladora – será alterada aos poucos: porque o mal voltar para o lado do bem demora cem vezes o tempo que o bem gastou para ir para o outro lado. O processo é longo, mas vai acontecer. O importante é começar.

Este texto não faz campanha e não critica qualquer candidato. Apenas visa lembrar o sequestro da Coisa Pública por verdadeiros criminosos, trajados de políticos, quando a função de um agente público seria estar empenhado para usar da melhor maneira possível o dinheiro comunitário, prestando contas reais.

O que se vê eleição pós eleição no Brasil é a Síndrome de Estocolmo da política. A afeição criada por criminosos que nada diferem de traficantes de drogas e assaltantes de banco fazem de cada habitante um refém, que tenta se libertar a cada quatro anos, mas que a maioria (quiçá ludibriada pela cosmética audiovisual da campanha) se encarrega de colocar de volta. A defesa de quem praticou o mal (sob o eufemismo do ‘rouba, mas faz’) representa a incapacidade de encontrar outro candidato, que consegue fazer sem ter a outra ‘qualidade’ embutida.

Se o povo merece o governo que tem, a maioria está correta e seria totalmente errônea essa colocação de que ladrões voltam ao poder. Mas a Síndrome de Estocolmo – expressão de Nils Bejerot, criminólogo e psicólogo, criada durante assalto de cinco dias, em 1973, na capital da Suécia — explica.

Como forma de defesa, as vítimas tentam se identificar com os sequestradores com medo de sofrer retaliações. E gestos singelos (como dar um prato de comida no cativeiro) é totalmente amplificado, causando uma afeição por quem na verdade está praticando o mal.
Nós merecemos mais do que gestos singelos.

DANIEL POLCARO PEREIRA, jornalista, é editor do Clic Folha (polcaro@folhadamanha.com.br)

Também é blogueiro. Aqui.